sexta-feira, abril 30, 2004

"Não tenho a inteira certeza que a minha própria admiração pelos Doors tenha alguma coisa a ver com a sua música. Alguns deles são, reconhecidamente, fracos. Mas considero que o grau com que se entregam à simplicidade, é mais admiravelmente impressivo do que o grau com que outros artistas menores evitam conscientemente a simplicidade. Parece-me que se um grupo atingiu verdadeiramente as perfeições poéticas, devia beneficiar do luxo de cometer grandes erros; muitos poucos agem de uma maneira ou de outra. É como a poesia de Morrison; a maior parte dela é o trabalho de um poeta genuíno, um Withman dos revolucionários anos sessenta, mas alguma é embaraçosamente imatura. Não é um crime ir de um extremo artístico ao outro; são, afinal de tudo, falhas humanas, e não existe arte se não existir humanindade. Mas, repito, não é, de qualquer modo, nem a sua música e talvez nem mesmo a sua poesia, ou a qualidade da música ou o carisma, nem os álbuns ou o concerto de Aquarius, por estranhos, belos e excitantes que sejam, que realmente me fez admirar os Doors. Ao contrário, são as vibrações que deles recebo por causa do sítio onde sinto que eles estão a tentar entrar e a fazer-nos entrar, um mundo que transcede o mundo limitado do rock, e se movimenta em áreas cinematográficas, teatrais e revolucionárias. Ver Morrison não em palco mas a viver a sua vida, nesses momentos mais calmos: vê-lo na produção de Norman Mailer, The Deer Park, em cada representação do Living Theatre, na abertura do James Joyce Memorial Liquid Theatre da Companhia de Teatro, sempre no local certo, na hora certa, furiosamente envolvido no gênero da arte que é mais pertinente do que tangencial à vida. Esse gênero de pessoa não tem que ter poesia dentro dele, mas se a tem, quando a faz, devemos olhar para ela mais cautelosamente, levá-la mais a sério. No caso de Jim Morrison e os Doors, a agitação vale a pena. Aproximaram-se da Arte, não importando quanto ofenderam, divertiram ou mesmo excitaram os críticos de rock. Os padrões pelos quais a sua arte deve ser medida são mais antigos e mais profundos."
Harvey Perr - Los Angeles Free Press